Esquizofrenia


A esquizofrenia é um dos principais transtornos mentais e acomete 1% da população em idade jovem, entre os 15 e os 35 anos de idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a terceira causa de perda da qualidade de vida entre os 15 e 44 anos, considerando-se todas as doenças. Apesar do impacto social, a esquizofrenia ainda é uma doença pouco conhecida pela sociedade, sempre cercada de muitos tabus e preconceitos. Crenças como “as pessoas com esquizofrenia são violentas e imprevisíveis”, “elas são culpadas pela doença”, “elas têm dupla personalidade”, “elas precisam permanecer internadas” são fruto do desconhecimento e do preconceito.


A esquizofrenia caracteriza-se por uma grave desestruturação psíquica, em que a pessoa perde a capacidade de integrar suas emoções e sentimentos com seus pensamentos, podendo apresentar crenças irreais (delírios), percepções falsas do ambiente (alucinações) e comportamentos que revelam a perda do juízo crítico. A doença produz também dificuldades sociais, como as relacionadas ao trabalho e relacionamento, com a interrupção das atividades produtivas da pessoa. O tratamento envolve medicamentos, psicoterapia, terapias ocupacionais e conscientização da família, que absorve a maior parte das tensões geradas pela doença. A esquizofrenia não tem cura, mas com o tratamento adequado a pessoa pode se recuperar e voltar a viver uma vida normal.

Abaixo um resumo dos principais tópicos abordados pelo Portal Entendendo a Esquizofrenia. Você pode acessá-los também pelo menu da barra lateral.



O que é? - A esquizofrenia foi descrita como doença no final do século XIX pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin, que a chamou na época de Demência Precoce. Bleuler, psiquiatra suíço, cunhou o termo esquizofrenia (mente cindida) no início do século XX, pois acreditava que a alteração fundamental da doença era a cisão entre pensamento e emoção.

Quem adoece? - A esquizofrenia acomete 1% da população mundial em idade jovem. Os homens adoecem mais comumente entre os 15 e os 25 anos e as mulheres entre 25 e 35 anos.


Quais os sintomas?

Sintomas iniciais - Os sintomas iniciais ou prodrômicos são facilmente confundidos com depressão e ansiedade. A pessoa torna-se mais introspectiva, tem a tendência de descontinuar atividades regulares, isolar-se socialmente, pode ter dúvidas existenciais ou filosóficas e tem a necessidade de buscar significados para tudo o que acontece ao seu redor.


Sintomas positivos - Crenças fantasiosas (delírios) e falsas percepções (alucinações) dominam a consciência da pessoa, que passa a ter dificuldades em discernir a fantasia da realidade, com alterações do comportamento que revelam um juízo crítico comprometido.


Sintomas negativos - Confundidos com preguiça e má vontade, os sintomas negativos são aspectos importantes na doença e que dominam o quadro crônico. A pessoa pode perder o interesse pelas atividades, ficar desmotivada, isolar-se socialmente, tem dificuldade de demonstrar seus afetos e sentimentos ou apresenta reações emocionais desconexas.


Sintomas da cognição - Alterações da atenção e memória, dificuldade de planejamento e para tomar decisões são algumas das alterações cognitivas da esquizofrenia, que trazem prejuízos para o funcionamento social, como trabalho e relacionamento.


Sintomas neurológicos - Trejeitos, tiques motores, atitude mais estabanada ou movimentos finos descoordenados são sinais neurológicos que podem estar presentes em alguns casos de esquizofrenia.


Funcionamento social - Os sintomas da esquizofrenia trazem maior dificuldade para atividades como trabalho e estudo, relacionamentos, amizades e lazer, mas com o tratamento a pessoa pode melhorar e superar os obstáculos.


Comportamento - Não é correto associar violência e agressividade à esquizofrenia, pois os portadores da doença não são mais violentos do que as pessoas saudáveis. Alguns comportamentos merecem destaque, como as manias de repetição, os cuidados com a higiene e a aparência e o risco de suicídio.


Abuso de drogas - Cada vez mais presente, o uso e abuso de drogas ilícitas agravam muito o curso da esquizofrenia, aumentando o número de recaídas. Drogas lícitas, como o álcool, o tabaco e a cafeína também podem prejudicar o tratamento e a saúde dos pacientes.


Classificação - A esquizofrenia pode ser classificada em subtipos de acordo com os sintomas mais preponderantes, o que pode variar muito entre pacientes. Esquizofrenia paranóide, desorganizada ou hebefrênica, catatônica, residual, simples e indiferenciada.


Qual a causa?

Genética - A genética é responsável pela metade do risco de adoecimento, cabendo aos fatores ambientais a outra metade. A genética da esquizofrenia é complexa, acredita-se que muitos genes estejam envolvidos e que eles regulem etapas importantes do desenvolvimento cerebral.


Ambiente - Os fatores ambientais que mais influenciam a doença são aqueles que ocorrem precocemente durante o desenvolvimento cerebral, como durante a gestação, no parto e na primeira infância. Os fatores podem ser físicos, como infecções por vírus na gestação, traumatismo de parto e infecções do SNC na infância, e psicológicos, como traumas, depressão materna ou perda parental precoce.

Teoria causal - A teoria mais aceita é a do estresse-diátese, que se apóia em dois pilares, o genético e o ambiental. Os fatores ambientais ativariam genes de predisposição à doença que a pessoa herdou, causando problemas para o desenvolvimento e maturação do cérebro. O resultado final seria uma desconexão entre neurônios de diferentes áreas cerebrais, que levaria a um processamento diferente das informações e maior vulnerabilidade da pessoa ao estresse.


Como tratar?

Medicações - Os antipsicóticos são os medicamentos indicados no tratamento da esquizofrenia e representaram um grande avanço no tratamento da doença, com redução das internações psiquiátricas e melhor integração dos pacientes à sociedade.

Reabilitação - Os medicamentos tratam os principais sintomas da esquizofrenia, mas alguns sintomas relacionados mais diretamente ao funcionamento social da pessoa, como os sintomas negativos e cognitivos, requerem tratamentos complementares como a reabilitação psicossocial, cognitiva e a psicoterapia.
Internação - A necessidade de internação hospitalar reduziu drasticamente após o advento dos antipsicóticos, mas em situações de crise, quando o paciente se coloca em situações de risco, ela ainda é um recurso útil.

Eletrochoque - Um tratamento cercado de estigma e preconceito, porém eficaz e com indicações precisas, como a catatonia, o eletrochoque (ECT) é realizado hoje em dia em circunstâncias totalmente diferentes do passado, com anestesia, monitoramento do paciente e com baixo risco para a saúde.


Qual o remédio?

Atuação - Os antipsicóticos são medicamentos que atuam bloqueando receptores de dopamina e combatem os efeitos do excesso de dopamina, característica comum na esquizofrenia.

No Brasil - Tabela com os nomes e apresentações dos antipsicóticos disponíveis no país.

Efeitos colaterais - Os antipsicóticos são bem tolerados, mas podem apresentar efeitos colaterais, como os de impregnação.


Outros medicamentos

Anticolinérgicos - São medicamentos utilizados no combate aos efeitos de impregnação dos antipsicóticos. As substâncias mais utilizadas no Brasil são a prometazina (Fenergan) e o biperideno (Akineton).

Tranqüilizantes - Podem ser utilizados para finalidades específicas, como no tratamento da ansiedade e da insônia, porém não apresentam ação nos sintomas da esquizofrenia.

Estabilizadores de humor - São medicamentos que atuam no humor, estabilizando-o e combatendo sintomas como excitação, euforia, reações explosivas e ataques de raiva, que podem ocorrer também na esquizofrenia.

Antidepressivos - São utilizados nos quadros depressivos que podem ocorrer em pessoas com esquizofrenia, mas não possuem efeitos nos sintomas positivos.


Qual o papel da família?

Sentimentos e emoções - A esquizofrenia provoca reações emocionais nos familiares, gerando inicialmente um processo de negação da doença e depois de revolta. Isso pode retardar a procura pelo tratamento, já que a família é que inicialmente busca ajuda, e gerar conflitos em casa.

Padrões emocionais - Pesquisas demonstraram que alguns padrões emocionais ocorrem repetidamente em familiares de pacientes, podendo causar maior sobrecarga e estresse nos relacionamentos, o que é prejudicial para a estabilidade dos próprios pacientes e associado a um maior número de recaídas.

Terapia e psicoeducação - A informação sobre a doença é fundamental para a compreensão e manejo dos conflitos do dia-a-dia entre familiares e pacientes. A psicoeducação é o tratamento indicado para a família e compreende uma etapa de caráter educativo e outra de reflexão sobre atitudes e comportamentos erráticos que interferem na solução de problemas e conflitos.


Proteger contra recaídas

Por que proteger? - A pessoa com esquizofrenia tem maior vulnerabilidade ao estresse do ambiente e pode apresentar recaídas quando estiver sobrecarregada emocionalmente. O ambiente familiar e social são os que mais influenciam recaídas.

Como proteger? - Fatores de proteção como o tratamento medicamentoso, a psicoterapia, o programa de reabilitação e a terapia de psicoeducação de família devem ser fortalecidos para que fatores de risco para recaídas não prevaleçam.


Atividades diárias

Trabalho - É desejável que o paciente volte a trabalhar ou estudar. Para tanto é necessário que suas atividades sejam compatíveis com seu real potencial e que não sejam super-estimulantes e não constituam um fator de risco a mais para recaídas.

Relacionamentos - Algumas dificuldades de relacionamento podem melhorar com terapias e com o apoio da família, estimulando o paciente a estar mais em contato com as pessoas.

Lazer - O lazer é fundamental para uma vida mais equilibrada e harmoniosa. Terapias de reabilitação e atividades lúdicas com fins terapêuticos não devem ser confundidas com lazer, pois são encaradas pelos pacientes como atividades regulares. A família deve aproveitar o tempo junto e levar o paciente a passeios e atividades de entretenimento.

Como evolui? - A esquizofrenia tem um curso tão variável quanto a sua apresentação clínica. Há casos com poucos prejuízos sociais e de trabalho e outros com maior grau de dependência da família. O paciente não deve ser ofuscado pela doença e deve ser estimulado em seu potencial e encorajado a vencer obstáculos para uma vida mais plena e feliz.

Outros diagnósticos - Sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, não são exclusivos da esquizofrenia. Outros distúrbios psiquiátricos, bem como doenças clínicas que acometem o cérebro, podem apresentar sintomas psicóticos semelhantes à esquizofrenia.